Ana Letícia Campos Gava
Minha Autobiografia
Alguns anos após meu nascimento comecei a estudar na Escola Municipal “Cel José Máximo”. Na verdade já frequentava este local desde a barriga da minha mãe que sempre trabalhou lá. Logo que entrei na escola fiz minhas primeiras amizades, e já tive meus primeiros aprendizados.
A escola está situada em uma zona rural denominada Pombal, próxima à Barbacena. Todo meu ensino fundamental foi lá, cresci e amadureci nessa escola, tendo sempre um grande aprendizado com meus amigos e professores. Foi nessa escola também que perdi um dos meus maiores medos, o de falar em público, graças aos incentivos de meus professores.
Desde pequena sempre fui muito falante, o que me fez ser escolhida para fazer apresentações na frente de meus colegas, isso marcou muito minha vida, lembro como se fosse hoje o frio na barriga que era ficar na frente da escola inteira. Lembro de todas minhas apresentações teatrais que lá realizei, isso só me ajudou cada vez mais perder a vergonha de falar em público.
Foi nessa escola que eu realizei meu sonho de ser rainha da pipoca e noiva da quadrilha, fiz minha primeira apresentação de ballet, e também me apaixonei pelo teatro. Foi nessa escola que fiz as minhas melhores amizades que levo comigo para vida inteira.
Com a minha chegada ao nono ano a hora, de partir também chegou, era hora de concluir uma grande etapa em minha vida, a saudade foi e ainda é inevitável pois foi lá que cresci e me tornei o que sou hoje, e tudo isso é graças a todos que por lá passaram e puderam me ensinar algo.
Confesso que a mudança de escola era algo que me assustava muito, mais com o tempo vi que não era tudo isso que eu temia, e hoje estou amando onde escolhi estudar. Uma escola que me acolheu de braços abertos, fazendo assim eu me sentir na minha antiga escola que trago muitas saudades comigo.
Fotografias:
Ayane Lins Silva Machado
Ainda é relevante
Estarei registrando aqui primeiramente, a história de minha mãe para que haja maior entendimento sobre o objeto que escolhi.
Sônia nasceu em 1970, desde pequena tencionava tornar-se freira. Em 1987, aos 17 anos em uma missa, convocaram jovens de sua cidade natal que desejavam aprofundar-se no caminho religioso a entrarem em uma congregação estudando para tornarem-se freiras ou padres. Seguindo suas inspirações, conversou com seus pais que acabaram por autorizar sua ida até o convento. Durante 5 anos morou em São Gonçalo - Rio de Janeiro - nas instalações da congregação á qual ingressara. Logo fora transferida à Itália na sede de sua congregação. Por lá estudou teologia, lecionou para crianças do primário, pôde aprender Latim, Inglês e melhorar sua pronúncia no Italiano. Foi lá também que ganhou o objeto o qual escolhi apresentar à ti.
Um terço, com um crucifixo prata fora entregue a ela diretamente pelas mãos do Papa João Paulo II, infelizmente não pude obter uma foto dele pois o mesmo se encontra na residência de minha avó que não mora em nossa cidade. Mas para compensar isso, tenho uma imagem do momento em que ela recebeu o terço.
Desde criança quando ainda entendia poucas coisas, vi minha mãe a orar com aquele terço em suas mãos sempre tomando cuidado e logo depois de terminar o guardava cautelosamente em um saquinho. Demorei certo tempo para entender a relevância daquele objeto na vida de minha mãe, e percebendo tudo aquilo, resolvi inspirar-me em nela. Pude ouvir suas histórias e aventuras na Itália e nas Filipinas, sempre acabava mostrando-me o único objeto religioso abençoado pelo Papa que obtinha e sorria emocionada.
Tive minha infância e o inicio da adolescência religiosa e dedicada ao catolicismo. Agora, com um pouco mais de maturidade, pude conhecer novas religiões e outras culturas, conheci o budismo, primeiramente me vi interessada sobre ele porque possuo descendência asiática, procurei saber sobre suas práticas e fundamentos, me aprofundei no assunto, mas não passou disso. Acredito que o Deus - Jesus - tenha existido, mas não creio na bíblia ou em religiões.
Aquele objeto continua importante para mim, mas agora não se trata de uma crença, e sim da história de minha mãe, da minha história! Poderei tê-lo para mim um dia e sou imensamente feliz por isso. "
Fotografias:
Júlia Luciana Barra
"Essa é a historia da minha vida, mas antes de começar a falar a meu respeito, é preciso entender como tudo aconteceu antes da minha vinda ao mundo.
Há alguns anos atrás, meu pai, minha mãe e meus dois irmãos mais velhos, moravam em uma pequena casa, num município de Alfredo Vasconcelos, cujo nome é Potreiro. As coisas não eram muito fáceis por lá, meu pai trabalhava em um sítio, enquanto minha mãe cuidava dos meus irmãos em casa. Para ir até a cidade, era muito difícil e bem raro, basicamente só se ia em caso de necessidade.
Apesar de difícil, as coisas estavam seguindo normalmente, até minha mãe começar a ter enjôos matinais aparentemente sem motivo algum. Sim, ela estava grávida, mas só descobriu aos cinco meses de gestação, quando finalmente tinha resolvido ir ao médico. Ela não esperava que isso viesse a acontecer, não naquela época tão difícil. Mesmo assim ficou feliz e já começou a pensar em como seria sua vida dali em diante.
Em todas as idas ao medico, no ultrassom sempre constava que eu seria um menino, então minha mãe comprou um enxoval todo azul. Mas para sua surpresa, era uma menina que estava para chegar.
Era hora de escolher um nome, daí começa o dilema. Minha mãe havia pensado em colocar o nome como Mariana, mas em todas as três vezes que tentaram registrar, sempre faltava um documento, ou o cartório estava fechado. Então, decidiram colocar outro nome, porém minha mãe queria um, e meu pai outro. Conseguiram chegar a um acordo, e meu nome ficou Júlia Luciana, o primeiro nome escolhido pela mãe e o segundo pelo pai.
Finalmente, o dia da minha vinda ao mundo chegou. Na madrugada do dia 28 de junho de 2003, na santa casa de Barbacena, eu nasci forte e saudável. Muitas mudanças iriam acontecer daquele dia em diante.
Quando fiz três anos, nos mudamos para uma casa em Barbacena, ficamos lá por muito tempo, inclusive minha avó e minha madrinha eram nossas vizinhas. Era minha irmã que cuidava de mim enquanto nossos pais trabalhavam, os nossos primos iam para a nossa casa depois do almoço, e isso rendia muitas brincadeiras e risadas. Passamos por muitas dificuldades naquela casa, mas a maior parte do tempo transformávamos em momentos alegres.
Quando fiz cinco anos, nos mudamos para um sitio em Sá Fortes. Ficamos lá por um período curto de seis meses. Eu estava aprendendo a ler, quando nos mudamos de novo para Barbacena, só que dessa vez para uma casa própria. Era o sonho da minha mãe, mesmo sendo criança, eu conseguia perceber que ela estava muito feliz com essa conquista em sua vida.
Eu e minha irmã mais velha fomos matriculadas em uma nova escola, cujo nome era Henrique Diniz. Tinha hábitos muito diferentes das escolas que já tínhamos estudado, demoramos um tempo a se adaptar, mas logo fizemos amigos. No meu caso, alguns permaneceram comigo por longos anos.
Ao tentar me enturmar, um acidente aconteceu. Na tentativa falha de subir em uma árvore, caí com o rosto no chão. Fui levada para casa, eu estava em choque, chorando muito. Esse dia me marcou como nenhum outro, é uma má lembrança, mas que me ensinou algumas lições.
Anos se passaram, eu cheguei ao sexto ano. Era a vez de participar da minha primeira feira cultural, um evento que acontece na escola todos os anos. Eu estava ansiosa e bastante preocupada, por ser tímida aquilo parecia quase impossível para mim, mas eu consegui com ajuda dos meus amigos, que eu tinha conhecido há pouco tempo, porém eram quase irmãos para mim.
Bom, eu poderia continuar listando muitas coisas que aconteceram comigo durante esse tempo no Henrique Diniz. Porém, dez anos na mesma escola não são tão fáceis de contar. De todos os lugares que eu passei durante minha vida, o que mais me marcou tem sido esse. Foi lá que eu fiz amigos que são uma verdadeira família, aprendi tudo o que sei hoje e principalmente cresci e amadureci.
Concluindo, mesmo não tendo tantos anos de vida, nesse trabalho eu pude perceber quantos momentos passam despercebidos, e principalmente como o tempo mesmo parecendo curto, “esconde” muitas memórias.
Fotografias:
Rafaela Damasceno
Biografia
A casa do meu avô. Foi o bem material que escolhi para desenvolver o trabalho. Embora ele já esteja falecido, tanto sua presença quanto sua casa foram e são coisas marcantes para minha família.
Bem, a procedência dos meus familiares é algo meio complicado, há alguns mais velhos que dizem que um dos meus bisavôs foi adotado, entretanto nunca comprovamos. Enfim, meu avô veio de uma “roça” próxima a Barbacena, chamada Peixoto. Ele e minha avó se casaram e tiveram o primeiro filho por lá. Depois de um tempo vieram para Barbacena, onde tiveram os outros filhos, incluindo o meu pai. Toda vez que tocamos nesse assunto com minha avó, ela relata que foi uma fase dura, muitos filhos, dificuldade financeira, pressão de alguns familiares e outros problemas típicos dessa época.
Diante de tudo isso meu avo começou a consertar automóveis, alguns dos meus parentes dizem que ele era muito inteligente, conseguia rapidamente aprender novas técnicas e o funcionamento de peças diferentes. Assim ele foi aos poucos melhorando a casa pequena que tinha construído com a ajuda da minha avó. Na casa há, até hoje, o quarto em que ele guardava suas ferramentas.
Minha avó o traiu, saiu de casa e a partir daí ele criou os cinco filhos, com sua oficina improvisada e até hoje é conhecido no bairro por causa disso. Chegou a se casar de novo e teve mais uma filha. Mas dentre todos os filhos o único que continuou no ramo mecânico foi o meu pai.
Desde que ele faleceu, este ano foi primeira vez que a casa ficou vazia, alguns dos meus tios moravam lá até então. É por conta desta história que esta casa representa muito pra mim, representa o quanto meu avo batalhou para cuidar dos filhos, representa a profissão que o meu pai herdou e me mantém através dela, representa lar. E me lembra que, mesmo que meus planos dêem errado, e nada vá como eu tenho planejado, eu tenho um lar, alguém antes de mim batalhou para que não me faltasse lugar.
Fotografias:
Vívian de Paiva Vieira
Esta é a casa onde moro atualmente. Ela tem três andares, ambos construídos em anos diferentes e por moradores distintos, moro nela desde 2014 apesar de ter sido adquirida pela minha família em 2011.
Para muitos, esse patrimônio é apenas uma casa sem valor emocional, mas para mim ela marcou o início de um novo ciclo onde eu sai da minha zona de conforto e vivi novas experiências. Sempre morei em casas pequenas e isso foi motivo para pessoas falarem de mim sempre, como se uma casa, algumas paredes e uma porta fosse me fazer inferior a algum ser humano.
Ao me mudar para cá consegui perceber que morar em uma casa um pouco maior não muda nada quando você é feliz em qualquer lugar, por que por mais que seja bom ter o próprio quarto e mais privacidade é agradável também morar em uma residência menor que nos faz mais próximos a quem convivemos e termos mais diálogos e conhecer melhor o outro.
Esta casa foi uma das primeiras a serem construídas no meu bairro, ela começou bem pequena e simples, com tijolos de barro e um pequeno quintal, passados alguns anos o novo dono aumentou o quintal e fez uma “coberta” ao lado do pequeno cômodo e fez outro andar por cima, logo depois meu pai comprou a casa e construiu o terceiro andar e transformou aquela pequena habitação em uma garagem. Apesar de ainda não está totalmente pronta ela passa a impressão para muitos de que é grande, mas na verdade não passa de uma simples casa com cômodos estreitos e alguns mal feitos (afinal o antigo proprietário não era muito bom com obras).
Portanto a minha morada vai muito além de uma simples residência, é como se em cada pilastra que a sustentasse houvesse também força e garra de cada um que passou por aqui. Esta casa foi construída com muita dificuldade para ambos moradores e ver ela quase pronta é de imensa gratidão.
Fotografias:
Parabéns sua história ficou bem contada me emocionei!
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